A borboleta é considerada um símbolo da impermanência. Nos mostra como, na natureza, tudo vai sempre mudando.
Mas, se o natural da vida é mudar, por que resistimos tanto a mudanças?
As mudanças em si carregam uma perda, um luto.
Uma perda no que já foi. Dependendo de quanto de você está ali no que já se passou, que não ficou “digerido”, maior pode ser a dificuldade de passar para a fase seguinte.
Mas, se tentamos segurar o que já se passou, podemos adoecer (fisicamente, emocionalmente).
E isto é o que acontece em diferentes casos de transtornos alimentares.
Como já citei o exemplo aqui da anorexia nervosa, em que geralmente há dificuldade de deixar o corpo da criança para passar ao da adolescente (e tudo que isto significa). Ou até mesmo nos casos de transtorno de compulsão alimentar, em que a comida é como se fosse uma pessoa que acalenta, conforta, dá colo no passar de frustrações na vida (havendo uma dificuldade de deixar essa “pessoa”).
Estes 2 são exemplos de dificuldades do deixar ir, de experienciar o novo, geralmente por haver conteúdos não digeridos do passado (que fazem com que a pessoa fique parada ali), tendo uma resistência para se abrir a um novo jeito de lidar com a vida. O velho (velho corpo, velhas relações etc) ainda tem um significado (muitas vezes inconsciente) para seguir ali.
Mas, como já afirmou Freud: “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”.
E para isso é essencial um processo de auto-investigação- a qual demanda coragem para olhar para aspectos em nós antes negados. Em uma análise, por exemplo, levamos luz ao que não está digerido e segurando um sintoma, o qual pode ficar expresso no corpo e na maneira de lidar com este, assim como em demais relações.
Trazemos aos poucos a luz e elaboramos, para termos a possibilidade de seguir por novos caminhos.
Como disse Elisabeth Roudinesco: “Progresso só existe na ciência. Na psicanálise, existem transformações.”
Escrito por Ana Paula Bechara