

Começamos pelo início. Desde que nascemos, nos nossos primeiros contatos com nossa mãe, o alimento está fazendo parte. E ele não somente nutre o corpo físico. Neste momento está começando a se desenvolver o vínculo com a figura materna. E, neste vínculo, há a amamentação (ou outra forma de nutrir), em que o bebê vai recebendo também o mundo da mãe e começando a formar o seu mundo interno.
Além do disso, há prazer, há conforto, há afeto. E pelas “leituras” e devolutivas que esta mãe faz com o bebê, ela vai emprestando a capacidade dele mesmo se compreender.
Há autores que dizem que esta relação é a base para próximas relações, inclusive a com o alimento.
É claro que não podemos generalizar dizendo que é somente aí que vai determinar a relação de alguém com alimento. Esta primeira relação tem influência. Mas bem sabemos que as próximas relações, o ambiente familiar, a forma de se relacionar entre os familiares e forma de expressar emoções, o comportamento alimentar dos pais, dentre outros fatores também trazem influência.
Pensamos, nestas questões da oralidade, quando algo não correu bem na fase e a pessoa fica fixada nesta, como acontece nos transtornos alimentares, na dependência química etc. De acordo com o que aconteceu nos primeiros anos de vida, irá haver tb um padrão de se relacionar com o outro, como em dependência do outro (na dificuldade de separação deste outro), muitas vezes no medo do outro, na raiva deste outro. Dentre outros aspectos.
Aí voltamos para o assunto comida nos dias atuais:
Ver comida como um perigo, sentir medo de comida, querer se privar e não colocar dentro do seu corpo, tratar a comida como melhor amiga, ter ela como colo para o emocional, perder o controle etc. Percebe como a comida está em um lugar que habitualmente não seria atribuído a ela? Há outras questões sendo levadas para o comer.
No fundo são relações (que são reeditadas em relações atuais), sentimentos guardados e percepções da vida que formamos por estas primeiras experiências. E, para mudar, é tratar esta criança interior e, durante este processo, ir conseguindo trazer uma parte mais madura de si para fazer escolhas diferentes. Há saída, mas é um processo!
Escrito por Ana Paula Bechara