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Experiencias de falta e excessos alimentares

Quando eu fiz mestrado, estudei mães de crianças obesas. Busquei compreender as suas próprias experiências infantis, o modo como estas refletiram na relação com os filhos e as possíveis influências no desenvolvimento da obesidade.

Geralmente estas mães tinham vivido experiências de falta que não tinham sido bem elaboradas. Era comum falarem: “não quero que meu filho viva o que eu vivi”. Porém, o movimento que geralmente levava era o de superprotegerem os filhos, impedindo com que eles experienciassem a falta. E estas crianças, no momento que se deparavam com uma situação que gerava angústia (como um distanciamento do mãe, por diversas razões, como nascimento de um irmão ou por um trabalho), não conseguiam lidar, ficavam na busca de algo pra trazer alívio (como se fosse um colo de mãe), sendo nestes casos a comida.

As problemáticas relacionadas a falta podem ocorrer tanto pela superproteção, pelo preenchimento excessivo, não ensinando o outro a vivenciar a falta (como citado acima), quanto pela falta real, abandono, negligência, falta de olhar e cuidado no âmbito físico e/ou psíquico.

Winnicott dizia que a criança aprende a ficar sozinha e ter confiança nela, quando ela sabe que tem o outro. É como se vc soltasse a mão para o outro ir, mas mostrando que está lá. O que possibilita a segurança no ir para a vida. Pois assim a pessoa vai encontrando este referencial dentro dela mesma. E, em momentos mais desafiadores (que geram desconforto), tem instrumentos internos pra lidar.

Eu sempre falo para meus pacientes com alimentação emocional ou compulsão alimentar que, conforme olham para o processo atrás do sintoma alimentar, vão precisar ir aprendendo a desenvolver estes instrumentos internos para lidar com seus sentimentos sem precisar se apoiar na comida.

Escrito por Ana Paula Bechara