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Fatores que predispõem alterações do comportamento alimentar

DIFICULDADE DE EXPRESSAR EMOÇÕES

Este é um ponto bastante marcante nas alterações do comportamento alimentar. Muitas vezes quem vem a desencadear estas problemáticas tem dificuldade de sentir e de expressar o que vem do emocional.

Já vi várias vezes pacientes falando “não está acontecendo nada, está tudo bem”, mas ao mesmo tempo sem conseguir parar de repetir uma relação com o alimento. O que provavelmente está acontecendo é que você não está conseguindo ter contato com o que está atrás do sintoma.

Na infância, o que vinha do emocional pode não ter sido compreendido e trabalhado. Ficando guardado, escondido dentro de si, já que não estava dando para lidar. E a alimentação pode ser a via de expressão, como através da busca de suporte emocional, da rigidez, dentre outras formas.

Tem relação com a forma com os pais lidavam com o seu próprio emocional, com o ambiente e as relações, para assim lidar com o da criança.

HISTÓRIA FAMILIAR DE DIFICIL RELAÇÃO COM CORPO E COMIDA

É um fator de predisposição para alterações de comportamento alimentar ter um familiar próximo (como pai ou mãe, envolvido no cuidado com a criança) com transtorno alimentar ou com uma relação difícil com a comida e corpo.

Recebo muitas vezes pacientes com compulsão alimentar ou alimentação emocional ou apresentando métodos compensatórios (como vômito, exercício em excesso etc) que, quando crianças, eram muito controlados no que comiam e na sua forma corporal por um familiar com uma questão difícil com o seu próprio corpo e/ou comida. Assim como é bastante comum pais que já apresentavam compulsão alimentar ou alimentação emocional e filhos vierem a apresentar as mesmas questões.

Com a obesidade é a mesma coisa. A chance de uma criança vir a se tornar obesa é muito maior quando ambos pais estão obesos. Há fator genético e comportamental.

O que fazer?
– É importante os pais olharem para as próprias questões com corpo e alimentação. Buscando ressignificar esta relação. Os filhos vão aprender com o dito e o não dito.
– Também importante olhar para o ambiente familiar, para a organização em torno da alimentação. Buscando ser uma área da vida de cuidado e planejamento, mas prestando atenção para não cair no extremismo e rigidez. Por exemplo, há momentos que comemos para satisfazer uma vontade e está tudo bem com isso.
– Se a criança vem apresentando mudança no comportamento alimentar (por exemplo: vem aumentando muito o consumo de alimentos, apresentando uma voracidade, ou selecionando e restringindo muito os alimentos ou já muito engajada em ideias de dietas), busque ajuda profissional adequada. Pode ser um sinal de algo do emocional que ela está tentando comunicar.

 

SER MULHER

O ideal de beleza de corpo extremamente magro recai principalmente sobre mulheres. Sendo associado a competência, autocontrole, sucesso e a ser desejada pelo outro.

Sabe-se que o buscar destes atributos através do corpo está intimamente relacionado aos valores na família e as relações no ambiente familiar. Por exemplo: mães de pacientes com transtornos alimentar tendem a ser mais críticas em relação ao peso de suas filhas (do que as que não vem a desenvolver TA). Outro exemplo: se vc vivia num ambiente familiar com falta de demonstração de amor e passa a acreditar que vai conseguir isso através do seu corpo (recebendo o olhar e admiração do outro), esta pode se tornar a sua busca, sem nem perceber o conflito psíquico atrás. Vc “enterra” no seu inconsciente o que determinou esse movimento e passa a ir para fora tentando ter o que não recebeu ou tentando ser algo para o outro.

Como pode abrir alterações do comportamento alimentar:
– Seguindo firmemente o ideal, pode entrar em muita privação, muito controle. Vejo pacientes muito cansadas disso, mas com ideias fixas de que para serem magras e desejadas, precisam ser muito privadas. Gerando danos físicos, psicológicos, sociais.
– Um outro movimento é o de pessoas que ficam muito frustradas por não conseguirem atingir o ideal de beleza. Os sentimentos negativos por estar fora do padrão (associados às vivências na infância e adolescência), podem ser anestesiados pela comida, no movimento da compulsão alimentar. Além de outros sentimentos que não está conseguindo elaborar. A comida vai servindo como algo que alivia o que vem de dentro.

Também é importante de colocar que o prazer da mulher muitas vezes é mal visto, considerado sujo. Para ser desejada, precisaria “se livrar” disso. Podendo esta questão se “deslocar” o processo alimentar. Veja que muitas vezes a imagem da mulher é associada a salada, ao “leve”. E o comer de alimentos “impuros”, como doces e massas, como algo errado, digno de comer escondido e de uma punição. Nos momentos da compulsão são justamente estes “impuros” que vai comer, pois o desejo reprimido só aumenta.

Por último quero colocar que o caminho é o do meio. Não há nada de errado em vc comer doces, pão e pizza, por exemplo. O “errado” é o caminhar pelos extremos, ou se privando muito ou buscando algo pra se anestesiar- nestes casos é sempre importante olhar para o emocional, para o que está atrás (como sempre falo).
É possível estar bem com o corpo e com a alimentação sem precisar de nada disso.

OBS:
– Os homens também podem ter alterações do comportamento alimentar ou transtornos alimentares.
– Estes fatores de predisposição aumentam a chance, mas não determinam a ocorrência.
– Se tiver alteração do comportamento alimentar, busque auxílio profissional!

Escrito por Ana Paula Bechara