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Mudanças

No ano de 2020 vivi várias mudanças. A de apartamento tem sido uma delas.

Eu, assim como muitas pessoas, sempre fui resistente a mudanças. Por mais que algo não estivesse bom, eu muitas vezes ficava bem apegada àquilo. Pois no fundo eu sabia que mexer no que estava desagradável, abriria muitas portas dentro de mim. E sei lá, “onde isso tudo iria dar?”. Impedir uma mudança dá uma certa segurança. Pois afinal de contas, já conheço esse lugar onde estou.

Hoje percebo que quando vou trabalhando isso com meus pacientes, também é um baita trabalho interno pra mim mesma. E só consigo estar firmada trabalhando com eles, se o trabalho comigo mesma também acontece.
É uma baita desconstrução.

Quando eu estava nesta mudança de apartamento, percebi o tanto de coisas que eu deixava guardadas no meu quarto. O tanto de coisas que ficavam no meu quarto que nem eram minhas! Quando fui me dando conta, fui me questionando como eu conseguia dormir naquele quarto segurando tudo aquilo.

De certa forma, guardar coisas e coisas que nem eram minhas me davam um senso de identidade.
E é desesperador este momento em que vamos soltando o que não nos serve, o que não cabe mais. Dá angústia, medo (dos mais diversos).

Eu sempre falo para os meus pacientes que estão virando uma chave o quão louvável é este momento. O quão louvável é mudar a forma veem a si mesmos e tratam a si mesmos. E mudar a forma corporal, para muitos, também traz uma desidentificação e uma desconstrução de algo bem profundo. Pois o nosso corpo e nosso jeito de ser com este são construídos pela nossa história de vida, por passagens que deixaram marcas. O corpo é um reflexo desta história. Soltar o que não serve fora é um reflexo de um soltar de algo mais profundo.

Escrito por Ana Paula Bechara